DISCURSO DE POSSE DO DIRETOR DA ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

Evento comemorativo: 11 de dezembro de 2019

Data efetiva da posse: 15 de janeiro de 2020 

Boa noite a todos e todas aqui presentes no Auditório Profª Rosalda Paim, para comemorar a posse da Direção da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa _EEAAC – da Universidade Federal Fluminense – UFF; gestão 2020-2024. Primeiramente, desejo cumprimentar e agradecer: à presença do Magnífico Reitor Prof. Antonio Cláudio; às Professoras Ana Lúcia Abrahão e Marilda Andrade, nossas antecessoras; à Coordenação de Graduação em Enfermagem; às Coordenações de Pós Graduação; às Chefias de Departamentos; Ao Diretório Acadêmico da EEAAC, a todas as autoridades aqui presentes; aos nossos alunos de graduação e de pós-graduação; aos técnicos administrativos; aos nossos colegas docentes da EEAAC, da UFF e externos a UFF, aos usuários dos serviços de saúde aqui presentes; aos nossos amigos e familiares que vieram nos prestigiar e, aos que nos ajudaram a organizar esse festivo evento, nossas cordiais saudações.

Caros Amigos e Colegas, nesse momento tão querido e festivo, inspirado numa Aurora motivadora e desafiante, no qual se comemora esse insigne momento de posse. Não de uma data, mas de um marco, no qual os valores humanos, de riqueza cultural, técnica e científica se juntam ao Espírito criador, humano e científico. Valores esses reconhecidos e estimulados a serem mantidos, com: reflexão crítica; criatividade; sensibilidade; e resolutividade.

A Universidade foi criada para produzir conhecimento, para transformar e promover o bem estar humano. Assim diz Maturana, é intrínseco ao humano buscar o conhecer, quando ele teoriza sobre a biologia do conhecer e do amar. Destarte, É própria do humano a capacidade de pensar, ser livre, criar e transformar. Sendo a pessoa humana um vier a ser em sua dimensão cognitiva, afetiva e social.

O contexto atual é movediço, incerto, nos quais valores institucionais são colocados em cheque e os argumentos autocráticos se desvanecem, diante da fluidez da pós-modernidade. Contexto no qual Edgar Morin postula como lidar com as incertezas e propõe a construção de um projeto de educação para o futuro, diante dos sete saberes, baseado numa cultura de paz e de respeito.

Esse contexto contemporâneo, já considerado por diversos teóricos, como pós-moderno e pós-colonialista, implica em lidar com as diversidades diante das adversidades, afirmando uma abordagem de compreensão, cooperação, que enriquecem e se complementam, na inclusão e na alteridade.

De modo correlato, consideramos que o refúgio no fundamentalismo, pode gerar a morte do pensamento criador e da capacidade reflexiva, da busca de novos conhecimentos e da transformação, diante da ética solidária.

O momento é de desafios e implica numa posição política para garantir as conquistas sociais na saúde e no trabalho. Posição política remete a formação voltada para uma prática social, reflexiva, transformadora, criativa é ética, diante das conquistas da saúde e das medidas de reparação das desigualdades. A lógica de mercado excludente não pode ser o viés para reger a formação e a produção no trabalho. 

 De modo concomitante é preciso encontrar saídas criativas, participativas e integradas, na busca de recursos para nossa manutenção e novos avanços em termos de formação e qualificação. Por conseguinte, é preciso promover o valor da vida no ensino e no trabalho da Unidade e contribuir para um ambiente que gere boas relações de trabalho, subsidiando uma formação de excelência.

Como de fato, o momento atual ressalta o cuidado com a vida, com o outro, com o meio ambiente e com o planeta. Cuidar implica em reparação, manutenção e persistência pela vida. Nessa perspectiva, a ecologia por si só é um ramo de conhecimento transdisciplinar e precisa considerar o meio-ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana, segundo Guattari.

 

O Ambiente, as relações no trabalho e o ensino

 

Nessa perspectiva o ambiente que falamos se refere a nossa sede, mas inclui sua extensão nos campos de atuação das atividades de ensino, pesquisa e extensão, como os espaços hospitalares, as unidades básicas de saúde e o território da saúde da família, onde atuam nossos docentes, alunos e técnicos administrativos entre outros profissionais.  De modo correlato os ambientes virtuais e midiáticos estão imbricados nesse campo e sãos recursos que precisam ser considerados na produção dos conhecimentos e na promoção da qualidade de vida.

Diante da complexidade, é preciso ter espaços que possam gerar uma ambientação com segurança e acessibilidade para nosso trabalho e formação. Assim é preciso formar e ao mesmo tempo criar um ambiente que contemple a boa formação criando práticas sustentáveis e humanas.

É nos espaços do cotidiano que as relações humanas ocorrem e se configuram numa rede de pessoas que interagem, agem e produzem. Nesse prisma as pessoas que compõem os cenários da Escola de Enfermagem e suas extensões, são os valores mais importantes, pois é através do humano, de seu trabalho que a Universidade se mantém e se expande.

Neste sentido, é relevante e necessário ter boas condições de trabalho com salubridade e manter os diretos trabalhistas, tanto nos hospitais, quando nas unidades básicas de saúde.

Como de fato a instituição é complexa, envolvem os elementos estruturais, as relações humanas, os contratos ditos e não ditos, o instituído, o instituinte, dimensões conscientes e inconscientes entre outros.

Nesse sentido, as dimensões objetivas e subjetivas das relações de trabalho merecem ser consideradas e ressaltadas na gestão. De modo que precisamos criar uma política interna de humanização, acolhimento e respeito. É preciso gerar mecanismo para acolher, ouvir e atuar diante das demandas decorrentes das relações no ensino e no trabalho, promovendo a saúde, o bem estar, evitando transtornos nas relações humanas; prevenindo sofrimentos psíquicos. Almeja-se assim, ações conectadas com as iniciativas existentes das instâncias internas da Unidade e da Universidade.

Nessa perspectiva, vamos nos empenhar por um ambiente que propicie segurança, bons convívios de trabalhos e que seja equipado para manter e promover um ensino de qualidade.

É preciso o resgate da promoção de saúde na Escola, realizando e apoiando a eventos culturais, artísticos e esportivos, de modo a criar condições, no qual a dimensão estética esteja integrada a arte de cuidar, ensinar e pesquisar. Como de fato muitos docentes, técnicos administrativos e discentes já realizam essas atividades. Todavia a Direção deseja apoiar e projetar essas atividades, como espaços de convivências lúdicas e bem estar no convívio. Desse modo, é preciso divulgar os destaques e talentos da Aurora, abarcando de fato as atividades artísticas e culturais.

A nossa gestão vai estimular a participação coletiva das representações docentes, técnicos administrativos e dos alunos de graduação e pós-graduação.

Vale ressaltar que ao mesmo tempo, que se ensina e se trabalha com o cuidado, implica num olhar para si mesmo, como cuidar cuidando, tendo em vista que o cuidado é também uma interação de pessoas em grupo e na sociedade.

 

A arte de ensinar e cuidar e a especificidade da enfermagem

 

Nessa perspectiva, cabe destacar a arte de cuidar, ensinar e pesquisar, como uma dimensão emergente diante do retorno do fundamentalismo, da segregação, do controle coercitivo em relação aos que pensam modo diferente, dos que produzem conhecimento e que primam para a autonomia da ciência brasileira e sua conexão com o saber mundial.

Essa Escola nasceu no contexto da II guerra mundial em 1944, fundada pela Prof.ª Aurora de Afonso Costa, a qual realizou uma junção entre a competência profissional, a decisão política, a emergência das demandas de cuidado de enfermagem e da sociedade Fluminense.  A EEAAC já se destacava naquele tempo na arte de fazer, ensinar e cuidar buscando desde seus primórdios a competência técnica, científica e humana do cuidado, enfrentando os desafios e desbravando soluções diante dos problemas emergentes e continuo dos contextos políticos e sociais.

Uma Escola que produz conhecimento de enfermagem, tendo sua especificidade epistêmica na área de conhecimento no campo da saúde, e de ações normativas e reflexivas nos ciclos vitais humanos e que busca avançar como ciência, arte e profissão na esfera acadêmica científica, social e política. 

Essa Escola tem um compromisso de contribuir para projetar a enfermagem, enquanto ciência, arte e profissão, promovendo a formação de alto nível e compatível com padrões nacionais e internacionais da enfermagem de acordo com as conquistas sociais do SUS, das associações de classe, das instâncias acadêmicas e demandas sociais em termos de saúde.

Enfocamos um conhecimento que é científico e que demanda um posicionamento político de nossas decisões e ações. Mas é preciso questionar para quem estamos produzindo ciência e tecnologia? Para promover a qualidade de vida de nossa sociedade desigual ou para fomentar a uma lógica de mercado excludente. É preciso pensar na equidade na saúde, de modo que a reflexão do contexto precisa acompanhar a formação e ações práticas normativas, bem como desenvolver a capacidade de criação de soluções para os problemas de saúde da população.

A ciência, arte e profissão precisam avançar, mas é necessário investir, acreditar e ser criativo diante de forças que alienam e geram empecilhos para ensinar e pesquisar com qualidade, no qual o balizador é o bem estar humano e a diminuição da iniquidade social.

A Graduação em Enfermagem, a qual nomeia essa Escola, tem um papel essencial na formação de enfermeiro com competência técnica e cientifica, crítica criativa e humana, qual se constrói uma enfermagem de qualidade. Assim muitos enfermeiros e enfermeiras que foram formados por essa Escola desempenharam e desempenham importantes papéis na sociedade brasileira

Vamos trabalhar em conjunto para manter e avançar a qualidade de nossa Graduação e primar por um currículo vivo participativo retroalimentado, integrado com o contexto do Hospital Universitário e da rede de saúde. 

Para isso torna-se necessário uma implantação efetiva da interdisciplinaridade, entre as disciplinas, Departamentos de Ensino, Graduação e Pós-Graduação, atendo um planejamento de desenvolvimento institucional integrado a Universidade.

O Mestrado em Enfermagem Assistencial – MPEA – tem esse papel voltado para a prática do enfermeiro gerando produtos para transformação da pratica de enfermagem. Reforçando o saber em enfermagem, como poder de decisão e de transformação nos cenários da saúde. Coadjuvante aos cursos de lato senso existentes na EEAAC que contribuem para a prática de excelência do enfermeiro e demais profissionais de Saúde.

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, da inteligência artificial, da nanotecnologia, do papel emergente da virtualidade e da tecnologia da informação, precisa ser inserido na formação do enfermeiro e dos profissionais de saúde. São de fato avanços, que não estão isentos de questões filosóficas e por si mesmo requerem uma consciência crítica perene. Pois os saberes são frutos da cognição humana, diante dos desejos e necessidades.

É necessário, portanto, fortalecer a conexão dos saberes das ciências da vida, humanas e sociais, desde o inicio da formação do enfermeiro, bem como a integração entre disciplinas, efetivando a interdisciplinaridade e a atitude transdisciplinar diante da tendência a fragmentação do conhecimento, do dualismo e a redução das pessoas a objetos.

Acreditamos que é possível integrar, gerar linguagens comuns no processo do ensino aprendizagem e criar elos e sintonias para o avanço da formação do enfermeiro.

Essa gestão vai primar para fortalecer as instâncias e os integrantes da Unidade a programar ações em conjunto e colegiadas, por meio de fóruns, oficinas e agregar propostas consolidadas. Enfim, contribuir para a conexão de conhecimentos e práticas que deem conta da especificidade da área de conhecimento de enfermagem e suas interfaces, diante dos avanços e demandas de novas projeções da Unidade, se torna primordial.

 

O lidar da Escola com interdisciplinaridade e transdisciplinaridade

 

O Sistema Único de Saúde Brasileiro, as estratégias e políticas públicas da saúde emergiram das conquistas sociais e para essa sociedade devem retornar permitindo desse modo o diálogo entre o que é técnico científico e o que é popular. O próprio SUS adota conceitos da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade para dar conta da integralidade da intersetorialidade e da equidade. Seguindo assim, o paradigma da promoção da saúde, visando à conexão das disciplinas e das ações que incluem o território vivo, a subjetividade e tecnologias que produzam o bem estar e o cuidado humanizado. Estas são conquistas que precisam ser mantidas e avançadas, mesmo diante dos desafios e tentativas de retrocessos. 

Atendendo essa perspectiva inter e transdisciplinar foi criada em nossa Unidade o Programa de Pós-Graduação em Ciências do Cuidado em Saúde – PACCS-, que acolhe profissionais de diversas áreas de conhecimento, cujo fulcro na produção de conhecimento e inovação, é o cuidado, de modo a contribuir para a rede de saúde. Ao mesmo tempo delineia-se a dimensão transdisciplinar dessa Escola, que em conjunto com as ciências da enfermagem precisam ser cultivadas.

Nessa perspectiva, o Mestrado Profissional de Ensino da Saúde – MPES visa formar profissionais para fortalecer o SUS, mediante o aprofundamento das bases teórico-metodológicas das ciências humanas, sociais e biológicas que fundamentam o campo multidisciplinar.

A Escola é um território de produção de conhecimento que prima pela boa relação e integração com as demais áreas do conhecimento que visa à construção de um cuidado com suas dimensões éticas, humanas e sociais.

 É bem verdade que avançamos na formação de recursos humanos para pesquisa, governança, ensino e produto para a assistência, bem como na produção de conhecimento, inovação e aquisição de fomentos. Todavia, as disposições da organização de nossas instâncias merecem ser repensadas em conjunto para gerar indicadores para uma reorganização de forma a alocar e produzir conhecimento, que melhor expresse e projete o que fazemos em termos da Instituição de formação e pesquisa na saúde. O que de certo implica numa reflexão e ação atual para reorganização dos ramos de conhecimentos internos com suas respectivas subáreas e linhas de pesquisa.

É preciso lembrar que a UFF, assim como a EEAAC tem uma característica extensionista, de modo que oferece seus trabalhos e produtos à comunidade, realizando verdadeira conexão entre os saberes técnicos científicos e populares, visando ações de promoção de saúde, prevenção e cuidados específicos em conjunto com os usuários e grupos humanos. Trabalhos que articulam o território social à Universidade, e que precisa ser estimulado, de modo a trazer cada vez mais os usuários para junto de nós, numa verdadeira participação cidadã e, por conseguinte, mostrar a seriedade e a importância do trabalho da Escola de Enfermagem e da Universidade na sociedade.

Enfim, a gestão apoia e estimula a integração entre a pesquisa, o ensino e a extensão, bem como a articulação da Unidade com os serviços de saúde.

Portanto, temos uma missão em manter nossas conquistas, primar por um ensino de qualidade, melhorar nossas condições de trabalho e de ensino, projetando e representando nossa Escola a nível nacional e internacional.

Que nossos sonhos, nossas crenças e a espiritualidade, nos motivem a continuar em nossa missão na arte de ensinar e cuidar, e a buscar um novo porvir de esperança e equidade.

Que nossa noite seja linda e nossa confraternização frutífera.

Que assim seja.

  

Prof. Dr. Enéas Rangel Teixeira

Diretor da EEAAC

 

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